Poetas e engenheiros


Luiz Aguilar Partido NOVO-SP

 

Quem foi para a escola e nunca sofreu com análise sintática atire a primeira pedra. Apesar de todos os esforços da saudosa professora Dona Maria Bacheto, na boa escola pública da minha infância, eu não aprendi até hoje por nunca ter entendido o uso prático da coisa. Já era uma espécie de prenúncio do futuro engenheiro. Ainda bem que o mundo é cheio de poetas, além de engenheiros. As minhas lutas e aflições de 40 anos com a análise sintática se transmutaram nas escolas de hoje para lutas por merenda e proselitismo político, com invasões e greves que só prejudicam a totalidade dos alunos. Parece que a escola pública perdeu seu rumo e não promove mais sua missão basilar, qual seja ensinar.

O uso das palavras é peça fundamental no desenvolvimento humano. Como evoluir individualmente e por extensão coletivamente se não sabemos nos comunicar nem entender o que é falado e escrito a nossa volta? A língua bem falada e escrita nos confere as normas e códigos comuns que permitem o entendimento completo na comunicação. Agora o engenheiro descobriu a razão de existir da análise sintática, uma espécie de ISO 9000 da linguagem.

Não é preciso enfatizar a importância da educação para o desenvolvimento do país. Enquanto isso, nossos índices de educação comparando com outros países continuam lá embaixo. No Índice Pisa, por exemplo, somos 55° em leitura entre 65 nações avaliadas pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Olhando para dentro, todos concordam que nossa educação pública formal deixa a desejar. Existem muitas propostas para reverter esse quadro, algumas meritórias, outras nem tanto, e quase todas passam por colocar mais recursos na educação. É lugar comum que deputados e vereadores peçam mais verbas para educação. Será que funciona?

No Brasil, a maior parte dos recursos alocados para a educação é empregada para os financiamentos e manutenção dos cursos superiores. Louvável e correta iniciativa, mas as falhas no ensino fundamental e médio acabam por penalizar os estudantes, que chegam as faculdades com preparo precário. Vivi de perto esta experiência nos 4 anos em que ministrei aulas em uma pequena faculdade no interior de São Paulo. Não é à toa que brasileiros em geral tenham tanta dificuldade em aprender uma língua estrangeira, já que não dominam a língua pátria. Cabe aos municípios proporcionar creches, pré-escolas e ensino fundamental. Em São Paulo, por exemplo, 20% do orçamento municipal é dedicado a educação, o que resulta em nada menos do que 11 bilhões de reais em 2016. Interessante notar que o custo por aluno atendido é de 1.154 reais por mês em média, quase igual ao custo médio das escolas particulares que fica em 1.224 reais. Sabemos que há ótimas escolas municipais, verdadeiras ilhas de excelência, mas infelizmente elas são a exceção e não a regra. Então, será que o modelo empregado nas escolas púbicas será mesmo o melhor para o conjunto da sociedade, e em especial para os que de fato precisam destes serviços?

Claro que não temos a pretensão neste texto de discutir respostas detalhadas para o problema educacional do Brasil. Um tema que o NOVO apoia e que merece estudos é representado pelo princípio de menor Estado e mais poder para o cidadão. A discussão deve ser focada no interesse das condições de ensino levando em conta o desenvolvimento do aluno e de suas famílias.

A ênfase da escola municipal deve ser a primeira fase da educação. A equação é simples, creches e escolas de qualidade que atraiam e atendam a todas as crianças, lugares seguros onde fiquem os filhos a fim de que os pais possam trabalhar em tempo integral, ou nos dias de hoje procurar emprego. Escolas que promovam a participação de pais e mestres, sem a contaminação de ideólogas, doutrinação político partidária nem ativismos. Afinal, escolas que as ensinem o bom português sem esquecer da matemática, já que o mundo precisa tanto dos engenheiros quanto dos poetas.

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Luiz V.V. Aguilar é engenheiro com MBA pela Fundação Dom Cabral, especialista em comércio internacional. Seus 15 anos como expatriado lhe conferem uma visão de economia e geopolítica a luz das liberdades individuais. É filiado NOVO de primeiro dia, membro do CONFIA-NOVO e pré-candidato à vereador em São Paulo.

 

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