Economia Criativa no Brasil: seus adeptos só podem ser malucos


Alexandre Reis - NOVO, SP

 

Eleição vai, eleição vem, e não bastasse a falta de questionamento real à participação do Estado no PIB por parte dos políticos, um assunto que faz parte do dia-a-dia da economia e que é essencial para que qualquer país se insira em um contexto global relevante chama atenção por sua ausência:

Trata-se da Economia Criativa.

O Brasil é um país completamente despreparado para o assunto. Com uma lei trabalhista da Era Vargas, um regime tributário incompreensível – que torna qualquer micro-empresário refém de seu contador – e uma burocracia lenta e descentralizada, fazer negócio por aqui é masoquismo.

Ok, isso é clichê, todo mundo sabe disso. Tem até uma piada que sintetiza nossa economia e seu fetiche por estatismo. O sujeito chega em casa e diz: “Passei no concurso público”. Dos parentes, recebe palmas, apertos de mão, abraços efusivos, faz-se uma festa! Seu irmão chega depois e diz “abri um negócio”. Não ouve nada, apenas o silêncio sepulcral. Ninguém tem coragem de olhá-lo nos olhos. Depois de uma longa pausa, alguém coloca a mão em seu ombro, em sinal de apoio, como se dissesse “estamos contigo nesse período difícil”.

Ilustro uma dificuldade real que vivi com minha empresa, uma empresa pequena. Um dia, vem um auditor da DRT (Delegacia Regional do Trabalho) fazer uma fiscalização aleatória no escritório. Ele identifica dois estagiários sem contrato.

Sim, havia na equipe dois estagiários que fizeram entrevistas de estágio e para todos os fins não eram nada além de estagiários (remunerados), cumprindo cargas de menos de 6 horas, sem nenhuma obrigação ou responsabilidade no organograma da empresa, e que estavam ali, acima de tudo, pelo aprendizado. Detalhe: a irmã de meu sócio era um deles.

Mas por quê não tinham contratos? Porque as universidades que cursam não emitem antes do terceiro ano. Veja bem: mesmo as boas universidades brasileiras são completamente defasadas no preparo de seus alunos para o mercado. Muitos professores fazem carreiras acadêmicas respeitáveis, mas suas vivências no mercado, que é onde o aluno (ou 90% deles) efetivamente vai construir sua carreira, é zero. Aí quando o aluno tem tempo livre, disponibilidade e vontade de fazer um estágio para conhecer a vida real longe do encastelamento que é mundo de faz-de-conta do ambiente acadêmico, a universidade, que deveria prepará-lo para a vida o impede. Como eles queriam muito fazer os estágios, fizemos contratos de gaveta para os dois.

Este fiscal da DRT disse que meu sócio estava explorando a própria irmã (!!!) e tivemos que registrá-los retroativamente como empregados, não estagiários, ainda que eles nunca tenham tido responsabilidades de empregados. O Estado tomou a parte dele e agora eles são “estagiários em regime CLT”(!) porque as (não) obrigações deles continuam as mesmas, só as da empresa aumentaram.

O fato mostra que a burocracia vai além das áreas fiscal e trabalhista. O corporativismo, as instituições de ensino (inclusive privadas), as entidades que regulam cada categoria, o MEC, todas essas instâncias tem o mesmo fetiche por regras, regulações excessivas e papeladas outras. Colocam barreiras e dificuldades entre duas partes que querem a mesma coisa.

Nesse contexto, como investir na economia criativa e no capital de risco? Enquanto países pequenos como Finlândia e Israel produzem marcas reconhecidas no mercado da economia criativa como Angry Birds, Waze (vendido para o Google), Wix, e Nokia (vendida para Microsoft), no Brasil temos, quando muito, copycats feitos para mercado doméstico.

Copycat é basicamente pegar um produto ou serviço de tecnologia já existente no exterior e adaptar para o mercado interno. EasyTaxi e Busca-pé são exemplos. Mas até nisso poderíamos ser melhores, os dois apps citados tem, respectivamente, capital alemão e sul africano injetado. Países como Alemanha (com o grupo Rocket Internet) e Espanha (exemplo recente do Cabify) fazem copycat de serviços criados no Vale do Silício para mercados emergentes e faturam alto com isso.

Com cenário de crédito caro e escasso, juros altos, aliado ao desequilíbrio no mercado de crédito provocado pelo juros estatais subsidiados para grandes grupos da velha economia via BNDES, obsessão por pautas ultrapassadas como estaleiros, portos, correio estatal, banco estatal, gigante do petróleo e afins, pode ter certeza: toda vez que você ler sobre o brasileiro fundador do Facebook, o brasileiro fundador do Instagram, o brasileiro que geriu o desenvolvimento do sistema Android no google, o brasileiro da Pixar e o brasileiro do time que desenvolveu o Kinect na Microsoft, escute a seguinte música de Lulu Santos em sua cabeça: “Garota eu vou pra Califórnia….”

O pior do Brasil não é o brasileiro. É o Estado, e a consequente fuga de cérebros.

Links:

http://corporate.canaltech.com.br/noticia/startups/Startups-um-jeito-inovador-de-empreendermas-com-muitas-dificuldades-no-caminho/

http://mercadoexecutivo.com.br/quais-as-principais-dificuldades-encontradas-por-startups-brasileiras/

Alexandre Reis é publicitário e microempreendedor.  Aprendeu na prática a desconfiar do Estado em todos os aspectos e acredita na vocação empreendedora do brasileiro e no potencial do indivíduo.

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