O país mais liberal do mundo: Liberland


Alexandre Reis - NOVO, SP

 

Se tem uma coisa que o leste-europeu conhece é o poder devastador do totalitarismo e do Estado gigante. Talvez seja desse trauma que parta a ideia de fundar Liberland: um país essencialmente liberal.

O idealizador do projeto, Vit Jedlicka, passou por experiências de vida que o marcaram profundamente e o levaram a levantar a bandeira dessa nação. Na infância, durante o regime comunista da Checoslováquia, ele viu seu pai ser transferido à força de um posto-chave no Instituto de Pesos e Medidas para trabalhar como mecânico. A razão dessa punição? Ele não queria se filiar ao Partido Comunista.

Com o fim dos regimes comunistas e a volta da democracia, o pai de Vit conseguiu trabalhar e constituir fortuna, sendo proprietário de uma rede de postos de gasolina. Em 1997, no entanto, perdeu seus conquistas mais uma vez, quando o Banco Central de seu país decidiu, subir os impostos em 25%, de um dia para o outro. O resultado foi uma quebradeira geral, crise econômica e sofrimento para a população.

Após sofrer abusos do Estado tanto na ditadura de esquerda quanto na democracia, Vit Jedicka passou a idealizar um sistema melhor. Em 2015, ele revelou o grande projeto de sua vida: Liberland. Mais que liberal, pretende ser um país libertário. Seu projeto é bem ousado e prevê impostos voluntários, constituição enxuta e poucas leis.

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Vit Jedlicka, com a bandeira de Liberland

O país não é apenas uma ideia, e já tem território estabelecido, um espaço de pouco menos de 5km² na fronteira entre Croácia e Sérvia. Entre tantos espaços que foram reivindicados por ambos os países após sucessivas guerras nos Balcãs, Liberland seria (ou será?) em um território milagrosamente não reclamado por ninguém. Um caso raro de terra de ninguém, em plena Europa. Tem contexto melhor para que a nação da liberdade tome forma?

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Liberland, entre Croácia e Sérvia

A luta na busca por reconhecimento, no entanto, não será fácil. Nenhum país reconhece Liberland ainda, e entre seus apoiadores estão figuras controversas como Bernie Sanders, Donald Trump, além de movimentos como Occuppy Wall Street, Tea Party e Anonymous.

Figuras e organizações políticas da extrema direita e extrema esquerda tem simpatia pela causa, mostrando que em política, ao contrário da lógica e física elementar, há menos espaço distancia entre dois extremo do que entre dois pontos que estejam no meio do caminho. Vit Jedicka se define como “anarco-capitalista”.

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Bandeira de Liberland

Por outro lado, o projeto recebe doações de pessoas físicas e jurídicas que buscam mais liberdade, tanto individual quanto econômica, ao redor do mundo.  Já são mais de 500.000 cidadãos que pediram cidadania.

O fundador de Liberland e simpatizantes já foram detidos pela policia croata, mas a Suprema Corte daquele país deu ganho de causa para Liberland. O território de Liberland é pequeno, por isso a proposta do país é ousada: o território seria sua “base legal” mas o grande benefício seria a cidadania. Seus cidadãos poderiam fazer negócios tendo suas empresas com base em Liberland, com menos Estado tomando parte considerável do fruto de seu trabalho.

Para que o regime de tributação voluntária não transforme Liberland em um paraíso fiscal, haverá uma série de benefícios para cidadãos que optarem por pagar impostos, o que não significa exatamente maior poder de voto, já que pela proposta o país teria um mínimo de votações sobre qualquer tema e de qualquer natureza, assim como um sistema legal enxuto. Por agora, é difícil descobrir mais detalhes sobre isto.

Liberland parece apenas um sonho. Mas se as ideias exatamente opostas a essas geraram os regimes totalitaristas que mais mataram na história, quem sabe seguir esse caminho nos leve, não a uma utopia (ingenua) mas a uma discussão sobre até onde o Estado deve interferir na vida do cidadão. Se Liberland nunca vier a existir, apenas de colocar a discussão nas agendas das nações, já terá valido a pena.

Link:  https://liberland.org/en/main/

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Alexandre Reis é publicitário e microempreendedor.  Aprendeu na prática a desconfiar do Estado em todos os aspectos e acredita na vocação empreendedora do brasileiro e no potencial do indivíduo.

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